O que nos resta

E foi há muito tempo
quando nada do que fizéssemos
acarretaria algo para alguém.

Éramos jovens, livres,
tínhamos as almas pertencendo ao mundo.
Nossas bocas violadas pela demência que é o tesão.
Nossos corpos violados pelo amor.
O amor, só serve para deturpar.

Tudo seria mais fácil com sexo,
um pouco de dor de cabeça no dia seguinte.
Uma gravidez indesejada,
um aborto que a calasse.

Mas inventamos de nos amar
e nos correspondermos.
Quanta tolice cabe aos jovens.
Acham (achávamos) que tudo pode ser resolvido
com boas intenções e passos certos.

Não sabem que o que rege a vida
é justamente o oposto.
O fio que tudo puxa, as coisas que se interligam.
Nada é por acaso, tudo está devidamente encaixado.
Existem dias e pessoas
os quais devemos encarar.
Assim como o dia em que nascemos
e o da morte.

Agora é tempo de encararmos as consequências.
Olhar para elas diretamente
andando à nossa frente, beijando nossa boca,
violando-nos a paz e sanidade.

Eu era jovem e você também.
Estávamos bem
e um dia, uma tempestade nos pegou em cheio.
Nada fizemos,
agimos sob as ordens dos que sabiam lidar com a vida.
Besteira.
O certo seríamos ter saído dali, corrido,
mas a vida cobra tanto quanto os credores à porta.
Foi o correto, mas nada digno.

Eu sou um erro que acarreto pela vida,
somos o erro que cometemos,
mas nada disso será perdoado,
nenhuma dessas palavras servirá para nossa redenção.

Nosso maniqueísmo barato chega ao fim.
É hora de sermos o que somos.
Na vala, cheios de lama e merda cobrindo nossos rostos.
Eu sou o cheiro do ralo que me acompanha
e você,
o resto de lixo no meio-fio.

Um comentário:

  1. Que arraso, Marcelo. Você descreveu um pedaço do meu passado misturado com esse meu presente. Você é um poeta (e contista) de mão cheia. Fã aqui, mesmo não parecendo. hahaha

    Beijos, querido
    parabéns!

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