Os dias

Tenho uma certa nostalgia dos dias,
principalmente dos que acontecem agora,
no exato momento em que escrevo e você me lê.
Os que passaram, tenho pouco carinho, afeto,
mas os de agora,
morro de pena que acabem.
Vejo-os passando e me dá uma coisa,
um medo, um descontentamento.
Vontade de agarrá-los pelas vestes
e deixá-los intactos, sem que se vão.
Mas não posso, nada me dá o direito
de parar o tempo e impedi-los de ir,
sem voltar, fixados no tempo e espaço.
Além de impossível, seria covardia,
Perderiam o sentido para que foram criados.
Porque os dias, como as coisas,
têm sua finalidade. Neles cabem os seres,
as vidas e as relações desses dois..
Há um começo e um fim
para que se datem os pormenores.
São o berço dos acontecimentos,
a cama em que se faz o presente
e o túmulo das coisas que foram.
Eu gosto de dia longo, que demora a passar.
Quando a hora arrasta, fico extasiado,
porque nela cabe um bocado de coisa
e o dia rende, faz sentido.
Mas quando voam as horas
e o dia passa rápido,
começa o descontentamento, uma náusea,
uma vertigem, como se eu não tivesse aproveitado,
como se algo tivesse se perdido.
O tempo que se esvai, a vida que corre,
somos o pássaro que canta no momento que canta
e a música no momento que toca,
assim como o bebê que nasce
e o homem que morre,
cada qual em seu devido lugar.
Apesar dos medos e das angústias,
os dias - e suas idiossincrasias -
moldam uma bela dança no espaço.

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