Saudade

Isso é saudade, querido
não me leve a mal,
não me queira longe de você.
É que a saudade bate, a nostalgia sobe à garganta
e eu lembro um bocado de coisa
já tão esquecida no fundo do baú.
Há quem diga que isso é amor,
mas besteira, isso é carinho.
Há um carinho enorme dentro de mim.
Carinho, afeto, saudade.
Mas não te quero. Não é inveja. É, talvez, cobiça.
Como se o brinquedo que eu tive funcionasse melhor com outro.
Comparação infame, eu sei. É que saudade tem dessas coisas.
Tira a palavra da boca, o bom senso vai embora.
Mas é isso. É saudade. Vontade de ter de novo,
de usar, de brincar, de viver.
É viver de novo algo que nunca foi vivido
porque só me lembro daquilo que idealizo.

Comento o que pensei e me olham com olhar desconfiado,
de soslaio, devem pensar que pirei.
Não, é que lembro daquilo que quero lembrar,
assim como se acredita naquilo se quer acreditar.
Saudade é enganar-se com a hipocrisia que o coração envia travestida de boa fé.
Nunca lembro do que aconteceu, mas há um bocado de similaridade.
Talvez os locais,
talvez os rapazes,
talvez as bocas beijadas.
Um bocado de detalhe que pode ser verdade, mas certamente não é.
É isso,
lembro de você como eu lembraria se tivesse dado certo.
Como não deu, me lembro errando, amargurando e sofrendo.
Mas não te quero, não invejo.
Sua boca não encaixa mais.

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