Pedaços de mim



Há um pedaço de mim que caiu por aí
Em alguma avenida, cruzamento, paralela.
Achou o asfalto mais afável
Do que este instável coração.

É sabido que a dor nos muda
Mas a transição para que isso ocorra
É semelhante à morte.

Por isso tenho morrido pouco a pouco
Deixando pedaços meus espalhados pelas avenidas
Algumas palavras tortas nos muros da periferia.

Meus pés afundam na lama grossa que se forma
Depois que a chuva arrasa a vida humana
Estico os dedos e sinto o barro no seu meio
Sinto ali um pouco de vida que pulsa
Mas aquela que, com o sol, tornar-se-á rija.

Meus músculos perderam a força
A vida me atropela dia sim e o outro também.
No peito eu tenho sobrepeso e a marca dos pneus.

Há um pedaço meu solto pela cidade
Vagando às casas sorrateiramente
Tramando detalhes às vidas alheias.
Mas não é maldade
É só o grito de socorro que emerge de mim.

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