Meus credos

Não tenho religião,
talvez não acredite em deus.
Talvez, digo, porque essa coisa de crença
a gente tem mesmo não querendo.
Acredita-se nas lendas que a mãe conta
sobre o homem do saco, da loira do banheiro,
da cigana velha.
A mãe conta que não pode misturar
a manga com o leite
e mesmo depois de grande
o medo toma conta
toda vez que aprontamos a mistura.
 
Acredito, por exemplo, em papai noel,
que para mim é um espírito bom,
daqueles que descem na gente, no Natal,
para fazer o bem, dar presentes,
receber sorrisos e gerar alguns.
Acredito no amor
e talvez seja ele o deus que sigo -
não por colocá-lo num pedestal,
como são acostumados a fazer
os românticos religiosos,
mas por considerá-lo redentor.
Acredito também na lealdade
e essa é uma das guias de minha vida.
Coloco-a em primeiro lugar
como o melhor amigo.
 
Tenho em conta tantas outras coisas
que acredito e faço valer,
por querer ou só por acreditar mesmo.
Não tenho religião,
mas todo feriado santo, ajoelho e rezo.
Peço o bom da vida
para aqueles que amo
e para quem desgosto, peço que deus os melhore.
Que eu me melhore, isso sempre peço.
Que mesmo acreditando e tendo medo,
por vezes a gente se desapega do que acredita
e trilha caminhos tortuosos,
sai do que é certo a nossa alma
e vai para o lado negro,
longe da luz calma e branda.
 
Mesmo não acreditando
em maniqueísmos burocráticos,
em peças pré-dispostas,
acredito num senso geral, ou individual, de bem estar.
Isso chamo de calmaria.
Como estado de espírito, como um deus renegado,
como um lado da vida.
A calmaria deveria ser instalada
na alma de cada um que nascesse
como promessa para que a vida vingasse.
Seríamos mais felizes, mais dispostos,
mais amorosos.
Teríamos a calmaria como senso único de justiça;
daríamos a ela o direito de julgar,
de fazer estar ou ir embora,
de acreditar ou virar a cara, de ser
e de desertar.
 
Acredito no lado bom da vida,
nas pessoas boas por natureza,
nas atitudes quentes e bonitas,
acredito em mim, porque acredito no próximo.
E está aí um mandamento cristão,
que, mesmo não crendo no todo,
solidarizo: amar o próximo.
Acho sábio
e pratico, mesmo quando não.
Mesmo no ódio eu amo, mesmo na raiva
ou na indisposição.
Acredito na querência,
no ambiente, no abraço,
no estar juntos.
Não tenho religião
mas tenho fé,
e isso me fode inteiro.

3 comentários:

  1. E eu disse que isso é tão (m)eu. E é. E acho bonito quando algo é pessoal, mas ao mesmo tempo é de outras pessoas.

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  2. Acredito nas coisas que eu escrevo, nos meus sentimentos e no que eu vejo, mas creio em Deus também, não que nem os religiosos fervorosos, só apenas como uma simples cristã que foi batizada na igreja e que não a frequenta. Beijos

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  3. Um sinal de sensibilidade, Marcelo. Acredito que Deus existe, mas é mesmo difícil acreditar em tudo o que se diz por aí.

    Abraço grande.

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