Homem IV

Nada mais familiar 
do que o gosto de cerveja, 
aquela que eu encontrava 
na sua boca.
Bebo no copo de vidro, 
mesa de plástico, 
vendo a tarde passar
à beira-mar.
Tem a falta que você faz,
mas ver os garotos desnudos
andando pela orla, me acalma -
ou acende.
Ainda como o bolinho de aipim
com um tanto de pimenta
que você sofria a comer,
mas que fazia questão,
me desafiando.
Lindos os seus olhos
lacrimejando com a quentura.
Há o caldo de cana
e a barraca de bijoux
onde comprávamos os cordões
que pendurávamos
nos tornozelos.
Eu tinha um com pimentas
e você, um olho grego.
É tudo igual
só falta você e o sorriso,
sua gentileza e malícia.
O sorriso que me alegrava
e comia, com uma diferença mínima
que só eu percebia.
Mas desde que o mar te engoliu
as coisas banais,
tão nossas e conhecidas,
perderam um pouco da graça.
Por isso ainda olho o mar,
peço a cerveja e como
demoradamente,
o nosso bolinho de aipim,
esperando e pedindo a Iemanjá
que me devolva você.
Pois sem a sua beleza
é quase impensável continuar a existir.

2 comentários:

  1. Que poema lindo, me lembrou Salvador, terra de todos os santos, e amores. Gostei muito dos seus escritos, e do nome do blog! Te convido a conhecer o meu cantinho, e o que tenho rabiscado por lá.

    Um super beijo
    http://venenosemacas.blogspot.com.br/

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  2. E viva a explosão de nostalgia em formato de texto! Muito bom, Marcelo.

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