Homem V


A Jefferson Rodrigues

De canto eu olho
e vejo você
quieto, amarelo, 
moreno de sol,
um tesão sem maior.
Te olho, encaro,
faço o sinal da cruz
pela tentação
em que caio,
mas não há jeito
seus pés me enredam.
Fetiche mais estranho,
me faz parecer
animal,
selvagem,
sem estudo. 
Quase babo quando você passa
e diz olá!
Espera resposta, 
abre sorriso
se acha inofensivo
mas quando sonho
você me espanca,
marginal.
Eu deito à noite
e imagino os dedos,
os pelos e o cheiro,
um homem completo.
Sem medo,
sem receio, você me pisaria,
escarraria em mim
e espalharia com o pé,
nas costas, na bunda.
Em mim todo, 
você está em mim todo.
E de você
enxergo tudo.
Há um desenho nos quadris
quando sentam;
Dobra as pernas
e as panturrilhas
me ameaçam;
O sorriso me come,
me estupra e violenta,
porque tudo que é lindo
machuca, 
dói um pouco.
Talvez seja cobiça.
Que seja.
Mas os pés, ah os pés,
eles me maltratam o sono,
a vida, a concentração.
Não penso, 
não deito, sou refém.
Espero o dia
que você me note,
espero o dia
que o seu pensamento cruze o meu
e minha vontade seja saciada.
Enquanto isso,
você passa e sorri,
pisca pra mim
e no quarto, à noite,
por você
eu gozo.


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