Respondi ao toque como quem responde a um "olá".
Voltei-me inteiro e sorri.
Um toque e nada mais. Não houve malícia,
maldade, mas houve o toque,
que eu pude sentir inteiro em mim.
Uma mão áspera, que pegou a minha,
apertou como um homem viril deve apertar,
largou-a e foi embora.
E desde então tenho sonhado com a bendita mão,
seu aperto e seu dono.
Um homem comum,
que veste calça jeans,
blazer à noite,
camisa xadrez de dia,
e aos finais de semana,
cansado da burocracia tola da vida,
investe em uma bermuda e uma camiseta de time.
Que sorri pouco, mas que é alegre,
de cabelo grisalho, barriga proeminente,
olhar de animal.
Um homem em que nada excede,
senão em sensualidade.
Um tipo raro que não sabe o que provoca,
que não faz pose, mas é uma estátua,
lindo, provocante, quieto.
Sonhei comigo tocando-o inteiro,
ele parado, sentindo e nada dizendo,
provando por a + b quem manda.
Quando pegou a minha mão e se apresentou
eu entendi tudo errado. Não sei seu nome,
nem para quem trabalha.
Se me disse onde mora, eu não sei;
Se me disse algo interessante, eu não sei.
Sei que sua boca, fina e meticulosamente diabólica,
sorriu e foi embora.
Junto dela, a mão e o aperto.
Na estrada de terra, em frente a minha casa,
ele foi e eu ouvi o barulho das pedras
sendo esmagadas pelos pés.
Hoje penso que ele deveria ter voltado,
me pego pela cintura,
olhado com fome para mim
e me beijado até sugar toda a minha vida.
Eu sentiria sua saliva,
eu o tocaria na alma e então seríamos conhecidos.
Mas como isso não aconteceu,
escrevo aquilo que sei dele: nada.
E se um dia voltar a vê-lo,
volto pra contar.
''Sei que sua boca, fina e meticulosamente diabólica,
ResponderExcluirsorriu e foi embora.''
Ai, ai.
Tu é bom em tudo que tu escreve.
Você é lindo escrevendo, lindo!
ResponderExcluir