Beija-me homem que não é meu

Queria eu ter nascido francês
para molhar a sua boca com a minha vontade
de fazer bico e maldizer a vida alheia.
Roçar o seu bigode e ouriçar minha barba
na sua orelha.
Os seus dentes
e as suas mãos
de homem que escreve,
pinta, malha e maltrata.

Queria eu poder andar nas ruas largas de Paris
com a sua mão nas minhas costas,
dizendo poemas, beijando-me inquietamente,
querendo me foder em qualquer esquina suja.

E então essa chuva que cai faria sentido
e a saudade que aperta seria resquício
de algo bom de verdade
e não ilusão de quem fora largado.
Eu estou amontoado
nos seus casos e suas mulheres.
Mas o corpo peludo é a sua redenção, meu homem.

Queria eu poder cheirar as suas vestes
para sabê-las imundas da nossa cama vulgar;
cheirar suas cuecas
para sentir meu gozo no seu sexo rijo;
cheirar sua boca
e sentir minha saliva ali, sem que você precise escondê-la.

Você é tão meu e não sabe.
Tens-me inteiro, mas não me possui de todo.
Mudas as estações, mas do galho firme que é seu, é o único em que fica.
E me pego a pensar nas tolas que te acreditam,
nas bocas rosinhas,
pequeninas,
carolinhas,
que lhe entregam suas bocetas macias,
e que você come sem receio,
mas procura minha bunda forte para se satisfazer.

Queria eu parar de pensar tanto e sentir mais,
que esse raciocínio todo e esse vontade de querer ainda mais
tem me deixado um bocado besta
e fazendo poemas do amor que é só meu.

Um comentário:

  1. Meu Deus...
    Que poema mais substancial, excitante, cortante e demasiado bonito.
    Sou tua admiradora, e digo isso com tamanha verdade.

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