Your only advice.

Talvez eu tenha seguido o único conselho que você me deu na vida: te amar.
Do resto, eu declinei.
E não foi por maldade, foi instinto de proteção mesmo. Não queria me arriscar a fazer todas as coisas que você me ofereceu.
Eu tenho um pé atrás com o desconhecido, fujo mesmo. Tenho pavor de não saber para onde estou sendo levado. Isso explica minha reação tão explosiva quanto ao aniversário surpresa que você me preparou.
Não foi maldade, foi medo.
Um tanto de gente armando contra mim. Era isso que eu via.
Não via o carinho, a disposição de me fazer um afago, de perderem suas noites comigo. Bebemos, no final. Comemos o bolo, mas de princípio, a surpresa foi uma bela porcaria.
Meu amigos nunca me viram daquele jeito e espero não verem novamente.
Eu que sou tão afável, tão quieto, gritando em meio aos convidados todo o ódio que me acometeu àquela hora.
E sou quieto por isso, por não ter que mostrar essa minha faceta triste, explosiva, desconfiada. Esse meu lado que verifica o gás três vezes antes de sair de casa. Que está no cinema pensando ter esquecido o ferro ligado.
Tudo é maldade vindo dos outros, tudo, mas não que seja. O problema sou eu.
O problema são os fantasmas que me visitam todas as noites. As noites mal dormidas em que via você dormindo perto da lareira. Todas essas noites eu usava para sofrer.
Abria alguma bebida, abria um livro e descobria ali argumento necessário para sofrer.
As palavras tem um poder enorme sobre as emoções. Nada como vociferar a combinação certa de palavras para que vidas sejam mudadas.
Como as nossas mudaram.
Tanto no começo quanto no fim.
Não sei ao certo como começamos, mas lembro de que houve a palavra amor envolvida nisso tudo. E creia-me, amei você verdadeiramente.
Não acredito na recíproca, no entanto. Tudo o que você me dizia, tenho certeza que fala para o garoto atual.
Deve dizer que o ama, que quer morar junto dele, dividir as coisas, as responsabilidades, as contas. O corpo você já divide, tenho certeza, porque transamos na primeira noite. Não te julgo por isso, tive o queria e isso é mais importante do que quaisquer outros julgamentos morais relacionados.
Eu imagino você de tantas formas, mas todas elas não fazem jus ao belo homem que você deve ter se tornado.
Não te vejo há cinco anos. Quando nos separamos você era lindo.
Tenho certeza que continua. Sua tendência sempre foi melhorar. Com o tempo, a sua pele melhorou, seu corpo. Fazia academia religiosamente e conseguira no tempo que ficamos juntos um corpo de deixar qualquer um louco.
Eu ficava, lembra-se?
Não deve se lembrar.
Eu, pelo contrário, sempre fui bom em desertar do que é bom para mim. Engordei alguns quilos. Tenho uma certa barriga agora. Ainda tenho o costume de usar duas meias, mesmo no calor.
Ainda uso chinelo com bermuda em lugares públicos. Ainda sou eu. O mesmo.
Você não, deve ter mudado.
Ter mudado a vida de mais um homem.
Deve fazer mais um coração explodir dentro em breve.
Amei você, amei com a mais violenta força que um homem pode amar outro. Amei-o dentro de todos os lugares e dentro de mim, principalmente. Nosso amor nunca coube dentro de mim ou de você. Nunca fomos suficientes.
Extrapolávamos.
Éramos too much.
É isso, escrevo hoje só para dizer que apesar de tudo, amei você. Amei você apesar de nunca ter acreditado em mim, de não ter aceitado meu pedido de desculpas e de não ter me posto de volta em sua cama.
O seu sorriso, esse de dentes tortos, boca carnuda e pelos em volta, esse eu nunca esquecerei.
Assim como a sua pouca estatura.
Como a sua bunda arrebitada, que faria qualquer peão de obra feliz.
Como a sua mão, que mais parecia o toque de Deus.
Meu querido, amei você mais que a mim mesmo.
Mesmo que você não tenha me amado, que não tenha me percebido a tempo de consertarmos tudo.
Mesmo assim.
E apesar disso, hoje, o que menos importa são esses detalhes.

2 comentários:

  1. Acho que já li uns 14 blogs hoje e digo convicta de que o melhor de todos os textos, é este aqui, o teu!
    Trás uma sinceridade tão profunda. (que até parece eu).

    Continue amando, rapaz!

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  2. porque amar é o seu verbo! <3

    como isso aqui ficou lindo! *-*
    as aparências mudaram, mas a essência amável ainda é a mesma!

    beijas, Belo! *:

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