"... amar o amor mais que o objeto do amor."


E naquele momento eu percebi que te amava. Vendo você ir embora. Chovia muito. A cidade era um caos só. Os carros passavam molhando os transeuntes. Nada funcionava. Nada. Por sorte, a rede elétrica ainda não havia sido afetada. Você indo embora, com as suas malas de viagem. Levava alguns livros, suas roupas, três sapatos e um quadro. Tudo isso embaixo de chuva. Vendo você naquele estado, eu percebi que te amava, mas já era tarde. Se eu corresse e tentasse te alcançar, conseguiria no máximo me molhar e, quem sabe, uma pneumonia. Há coisas que, quando enveredam por um caminho, não tem mais volta. Você não voltaria. Estava indo. Você foi.

A chuva consumia a cidade. No jornal da madrugada, repórteres se espalhavam pela cidade mostrando os estragos. Gente morrendo, telhados caindo. As casas alagadas na periferia. Você indo embora para sua casa. Nunca mais voltou, mas naquela noite eu poderia jurar que te vi, de manhã, entrando pela porta de volta para mim. Imaginei sem medo da febre. Você voltava e me medicava, eu melhorava e nós transávamos em cima da cadeira, na cozinha. Não aconteceu, mas deitado no sofá eu vi tudo. Como foi bom. Nós éramos incríveis juntos.

Mas você foi embora e nunca mais voltou. E foi assim que descobri como te amava, ou amava o amor.




(No título, citação de Do Amor, série exibida pelo canal pago Multishow)

2 comentários:

  1. Imaginei todas as cenas, cada detalhe... Dos livros alinhadamente organizados na mala até o tempo taciturno que abrangia a cidade.

    ''Vendo você naquele estado, eu percebi que te amava, mas já era tarde. ''
    Tudo o que escreves, é sempre bonito e sempre triste.
    Por isso me identifico demasiadamente.

    PS: Que música singela‼ Não a conhecia.


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  2. Lindo, delicado, forte, intrínseco, surrado... Tão lindo. Espero que a série Do amor continue, não pode ter acabado daquela forma.

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