Homem III

Os mais irresistíveis são os guris que calçam chinelo.
Eles andam despreocupadamente
por entre as ruas, desafiando o comércio,
porque estão indo e vindo de lugar algum. 
São livres para amar, livres para viver
aquilo que lhes aflorar à vontade
no instante do querer.
Andam aos bandos, passam perto de mim,
em frente o escritório 
e meus pés doem dentro dos sapatos.
Vejo-os sem camisa, às vezes de sunga,
mas o detalhe que mais me marca
são seus pés que calçam chinelos.
Donos de si, eu os desejo internamente,
faço loucuras com seus dedos,
suas pernas cabeludas, tão inocentes,
guris tão jovenzinhos
e que já, tão cedo, provocam em mim
sentimentos tão sexuais.
Soubessem o que passa aqui dentro
certamente não desfilariam seus pés
livres para qualquer um. Ou, sim,
desfilariam em tom desafiador,
dizendo que os pés os pertencem
e não a mim.
Ah, como são irresistíveis os guris que calçam chinelo,
que também calçam malícia, indecência,
que calçam o frescor da juventude
e calçam o sorriso que derruba 
o pai de família e seus segredos.
Preso dentro desse personagem,
eu almejo, um dia, poder viver um desses guris.
Seus pés, seus floreios e sua indecência
em vestir os chinelos tão sossegadamente.

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